Origem e História

Breve Resenha Histórica – RIBEIRA DE NISA

Ribeira de Nisa, situada nos contrafortes da Serra S. Mamede tem no seu nome um enigma. Desde tempos idos se tenta perceber a proveniência e história da freguesia mas é incerto resultante dos poucos registos históricos do lugar. O que se sabe é que a povoação se foi fixando em torno do recurso hídrico e aproveitando as suas vicissitudes para os trabalhos e vida do quotidiano.
O padre Anacleto Pires da Silva Martins escreve um artigo publicado na “revistas A Cidade”, n.º4 de Abril de 1982:


“Isto o que no Capítulo VIII dos seus “Diálgos” Frei Amador Arrais diz sobre a nossa cidade e arredores, pois esse “fresco arroio de cristalinas “águas” é com certeza a “ribeira” que hoje se chama de “Nisa” e que nascendo na nossa Serra de S. Mamede depois de fecundar muitas terras, passa não longe da Vila que lhe dá o nome, tendo entretanto, feito nascer e crescer a povoação que viria a ser precisamente a freguesia da “Ribeira de Nisa” cujas hortas e pomares abastecem a Cidade que D. Frei Amador Arrais amou e a que, com tanto elevo, se referiu”.


A vida religiosa teve nesta freguesia um importante assento. Muitos dos topónimos atestam esta presença (Val de Frades, Vigário Geral, S. Bento, Abadessa, Provença, Monsenhor e Quinta do Bispo), assim como os Conventos e Ordens religiosas que figuraram: Convento da Laranjeira, Convento da Boa Vista, Convento Santo António, Convento da Provença.
A Quinta do Bispo, ainda hoje assim chamada, foi habitada pelo Bispo D. Diogo de Correia. Diz-se que ali “modelou uma imagem representando o “Ecce Homo”. Em 1974, alguns devotos mandaram encarnar a imagem, e ao mesmo tempo construir para ela um nicho, que mais tarde foi transformado na atual Igreja do Senhor do Bonfim…”.
Em Val de Frades – Vargem, pela mão de António Joaquim Lourinho, funcionou a primeira escola, numa das salas de sua casa. Construiu depois uma escola com habitação anexa para a professora. Mais tarde uma nova escola foi construída, passando a anterior a ser conhecida como escola velha.
A igreja de Vargem deve a sua edificação também à família Lourinho, através do filho Manuel Lourinho que cedeu o terreno onde veio a ser edificada a Igreja em louvor de Nossa Senhora de Fátima.
No Monte Carvalho encontramos a Igreja de Nossa Senhora da Esperança, antiga pertença do Convento de Santo António, este que mais tarde veio a mudar de local para mais perto da cidade de Portalegre por motivos de os frades estarem constantemente a adoecer. Com a saída dos frades, a Igreja passou a servir de freguesia de Campo, com o nome de Nossa Senhora da Esperança… e D. Amador Arrais, terceiro bispo de Portalegre, fez desta a sede de uma Freguesia. Data do século XVI.
Rezavam as mulheres assim, antes de entrar na Igreja:


Deus te Salve Cruz Bendita,
Bento Sagrado Madeiro;
Ò Jesus já cá tardava;
Venho pedir-te perdão
Prá minha alma ser salva.


Sabe-se que no ano de 1878, esta freguesia tinha 261 fogos e 1119 habitantes. O executivo da Junta de 1979 fez obras de melhoramento significativas na eletrificação e arruamentos, tendo “gasto mais de dois mil e quinhentos contos na reconstrução da Igreja”. Com a colaboração do povo e outros, no ano 1982 foi erguido um busto em honra do Dr. Maças, médico, filho ilustre da terra que a todos socorria, vendo nele um amigo sincero e homem de palavra consoladora, que se contra no largo principal do Monte Carvalho.

In “Subsídios para a Monografia da Ribeira de Nisa” de Maria Tavares Transmontano

 

Breve Resenha Histórica – CARREIRAS

Existem nesta freguesia vestígios de ocupação humana muito antiga. Do Neolítico, identificaram-se o povoado do Veloso e a anta da herdade do João Martins, próxima da anta do Soveral, já no concelho de Castelo de Vide. Descobriram-se, entretanto, moedas do século I d. C. e vestígios de povoados da alta Idade Média. A aldeia, com mais do que provável origem medieval, terá nascido de um ponto de reunião dos pastores (cabreiros) da região, no Rossio. Nas proximidades situava-se um pequeno reduto fortificado, talvez com origem anterior, que deveria servir para acolher o gado e a população em caso de necessidade.
A existência de topónimos como Cabeços Brancos, Agua-de-todo-o- Ano e Fonte Branca, comprovadamente de origem templária, bem como o orago da Freguesia – O Mártir S. Sebastião – e o culto popular a S. João com tradições interessantes levam-nos a pôr a hipótese de uma remota posse por parte desta Ordem Religiosa e Militar no início da Nacionalidade.
A igreja de São Sebastião, nascida talvez sobre um santuário antigo, deverá ter sido edificada na Baixa Idade Média. Teve reconstruções em finais do século XVI e nos últimos decénios do século XVIII. A urbanização da aldeia terá pretendido ligar núcleos habitacionais mais antigos, identificável nos locais denominados Castelo, Castelinho, Arrabalde e Cabril. Embora tenha um traçado adaptado às curvas de nível da encosta da serra de Castelo de Vide, manifesta preocupações de regularidade. Deverá datar de inícios do século XVI.
Duma época posterior (início do Renascimento) ficou a Rua Nova como em qualquer povoação onde existiam judeus. Nada mais provável que alguns, vindos da Judiaria de Castelo de Vide, aqui se estabelecessem como Cristãos-Novos.
Existem desde tempos recuados os apelidos Carvalho e Pereira que são comuns a judeus portugueses obrigados à conversão no reinado de D. João III.
Marcando ainda esta presença, até ao século XX costumavam as mulheres entrar na Igreja pela porta lateral, tal como nas Sinagogas. Os homens entravam pela porta principal.Na tradição popular ficou a quadra:

“Adeus porta pequenina
Por onde as mulheres se servem!
E por causa das mulheres
Tantos delitos sucedem…”

Do século XVIII destaca-se a existência de Milícias ou Ordenanças, porque temos notícias comprovadas dos Alferes e Capitães, que exerceram funções nesta freguesia. As Ordenanças, chamadas Milícias no reinado D. Maria I, destinavam-se a secundar ações do exército de primeira linha e a exercer tarefas de vigilância.”
O século XIX é marcado pela Guerra Civil (1832-1834) que, em Carreiras terá deixado, segundo testemunhas orais, tristes marcas. Regista-se uma narração “que os soldados, não sabemos se Miguelistas ou Liberais, teriam rasgado as orelhas a uma mulher para lhe roubarem os brincos e cortado os seios a uma outra que estava a peneirar”.
Sabemos que durante esta guerra se multiplicaram as forças milicianas tanto do lado dos Realistas como dos Constitucionais e que Castelo de Vide, Portalegre e Marvão foram palco de mortes trágicas e de saques.
Já no século XX, Carreiras tomou um certo gosto republicano, a festa cívica presente assim como uma agremiação com objetivos recreativos e educacionais.
Com o Estado Novo avançado veio a estrada, a iluminação a petróleo primeiramente e depois a elétrica.
Com o 25 de Abril de 1974 as Carreiras ganham uma nova organização administrativa e torna-se notória a evolução social.